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quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Um conto para reflectir...



A noite é quase gelada...
Contudo, Mariazinha
é a menina de outras noites
que treme, tosse e caminha...

Guizos longes, guizos perto...
é Natal de paz e amor.
há muitas vozes cantando:
- “Louvado seja o Senhor!”.

A rua parece nova
qual jardim que floresceu.
cada vitrine enfeitada
repete: “Jesus nasceu!”

Descalça, vestido roto,
Mariazinha lá vai...
sozinha, sem mãe que a beije,
menina triste, sem pai.

Aqui e ali, pede um pão...
Está faminta e doente.
- “Vadia, sai depressa!”.
é o grito de muita gente.

- “Menina ladra! – outros dizem”:
- “Fuja daqui, pata feia!”.
Toda criança perdida
deve dormir na cadeia”.

Mariazinha tem fome
e chora, sentido em torno
o vento que traz o aroma
do pão aquecido ao forno.

Abatida, fatigada,
depois de percurso enorme,
estira-se na calçada...
Tenta o sono, mas não dorme.

Nisso, um moço calmo e belo
surge e fala, doce e brando:
- Mariazinha, você
está dormindo ou pensando?

A pequenina responde,
erguendo os bracinhos nus:
- Hoje é noite de Natal,
estou pensando em Jesus.

- Não recorda mais alguém?
E ela, a chorar, disse: - Eu
penso também, com saudade,
em minha mãe que morreu...

- Se Jesus aparecesse,
que é que você queria?
- Queria que ele me desse
um bolo da padaria...

Depois de comer, então
- Ela a pobre sorriu contente –
queria um par de sapatos
e uma blusa grande e quente...

Depois... Queria uma casa,
assim como todos tem...
Depois de tudo... eu queria
uma boneca também.

- Pois saiba, Mariazinha,
Eu lhe digo que assim seja!
você hoje terá tudo
aquilo que mais deseja.

- Mas, o senhor quem é mesmo?
E ele afirma, olhos em luz:
- Sou eu, amigo de sempre,
minha filha, eu sou Jesus!...

Mariazinha, encantada,
tonta de imensa alegria,
pôs a cabeça cansada
nos braços que ele estendia...

E dormiu, vendo-se outra,
em santo deslumbramento,
aconchegada a Jesus
na glória do firmamento.

No outro dia, muito cedo,
quando o lojista abre a porta,
um corpo caiu, de leve...
a menina estava morta.

FONTE: LIVRO ANTOLOGIA MEDIÙNICA DO NATAL –
Psicografia: Francisco Cândido Xavie.
Digitado por: Lúcia Aydir – SP/08/2005.