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quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Carbonária em Portugal


Como em quase toda a parte, também em Portugal a Carbonária foi muitas vezes uma associação paralela à Maçonaria (embora nem todos os maçons fossem carbonários). "Sociedade secreta essencialmente política", adversa do clericalismo e das congregações religiosas, tendo por objectivo as conquistas da liberdade e a perfectabilidade humana, impunha aos seus filiados "possuirem ocultamente uma arma com os competentes cartuchos". Contribuía directa e indirectamente para a educação popular e assistência aos desvalidos. "Tinha uma hierarquia própria, em certos aspectos semelhante à maçonaria, tratando os filiados por "primos". Os centros de reunião e aglomerações de associados chamavam-se, por ordem crescente de importância, "choças", "barracas" e "vendas". A Carbonária Portuguesa, à qual pertenceram pessoas da mais elevada categoria social, parece ter sido estabelecida em 1822 (ou 1823) "por oficiais italianos que procuravam, por meio de sociedades secretas, revolucionar toda a Europa Meridional". Até 1864 a sua intervenção fez-se sentir em muitos momentos críticos da vida nacional, pois todos os partidários políticos possuíam a sua carbonária. Depois de longo marasmo, desaparecem completamente. A indignação nacional suscitada pelo afrontoso ultimato da Inglaterra (1890) e as desastrosas consequências da revolta de 31 de Janeiro de 1891, com o seu cortejo de prisões, deportações e perseguições de toda a espécie, arrastaram a mocidade académica para as sociedades secretas. Mas foi em 1896 que surgiu a última Carbonária portuguesa, sendo completamente diferente das anteriores : diferente organização, ritual e até processos de combater. Foi seu fundador o grão-mestre Artur Duarte Luz de Almeida. A sua influência exerceu-se de maneira intensiva em quase todos os acontecimentos de carácter político e social ocorridos no País, nomeadamente naqueles que tinham em vista defender as liberdades públicas ameaçadas e combater o congreganismo e os abusos do clero. Tendo participado grandemente nos preparativos do movimento revolucionário de 28 de Janeiro de 1908, que abortou, a sua acção tornou-se depois decisiva para a queda da Monarquia , mais acentuadamente a partir de 14 de Junho de 1910, quando, a propósito de apressar a revolução, em perigo pelo número crescente de civis presos e militares transferidos, a Maçonaria nomeou uma comissão de resistência encarregada de coadjuvar a implantação da República por uma colaboração mais activa com a Carbonária. A fragmentação do Partido Republicano, sobrevinda ao advento do novo regime político nacional, tornou inevitável a extinção da Carbonária portuguesa, tendo depois, até 1926, resultado infrutíferas todas as tentativas feitas para o seu ressurgimento.


Carbonária : Organização, Graus e Simbolismo
Segundo o seu ritual de iniciação publicado pelo ABC( Da Carbonária dos Idealistas ao inicio da acção terrível, ABC, n.º 357 de 12 de Maio de 1927, p. 15):
“ É terminantemente proibido pertencer a qualquer outra organização política de carácter mais ou menos secreto, salvo à Maçonaria; citar nomes de consócios, indicar casas onde se efectivam as reuniões ou as iniciações e a maneira como estas são feitas; ensinar as palavras da Ordem e divulgar a estranhos e aos próprios filiados o que se passa na Associação. É igualmente proibido dar-se a conhecer - sem motivo de força maior - a qualquer membro da Carbonária A pena prevista para o iniciado que não cumpria estes preceitos era o afastamento e em casos graves a morte.”

Vedetas, um ou dois carbonários em pequenas terras de província, aldeias e lugares onde se torna impossível constituir núcleos;

Canteiros, núcleos que eram compostos por cinco Bons Primos, os Rachadores que se conheciam a todos, não conhecendo os membros da Carbonária Portuguesa mais do que estes cinco homens como membros da organização (pois nos outros órgãos apresentavam-se sempre todos de capuz tendencialmente negro ou com a cara mascarrada de carvão), o que tornava assim difícil a descoberta dos chefes, os quais todavia conheciam os seus homens;

Choças que eram compostas normalmente por cerca vinte Bons Primos, tinham três graus, Rachadores e Carvoeiros e eram presididos por um Carbonário decorado com o grau terceiro de Mestre, sendo o seu chefe designado como Mestre da Choça Esta agregava, coordenava e governava assim os Canteiros representadas por todos os seus Bons Primos e era assim a base da organização sendo que nesta estrutura é que se efectuavam as iniciações e recepções dos seus membros;

Barracas que eram constituídas idealmente por cinco Mestres que presidiam às Choças e que nesta tinham o nome de Mestre de Barraca. Esta agregava, coordenava e governava assim as cinco Choças, representadas pelos Mestres de Choça, tendo sob as suas ordens cerca de cem Bons Primos. O seu chefe era o Mestre da Venda;

Vendas eram compostas idealmente por cinco Mestres que presidiam às Barracas e que nesta tinham o nome de Mestre de Venda. Esta agregava, coordenava e governava assim as cinco Barracas, representadas pelos Mestres da Barraca, tendo sob as suas ordens cerca de quinhentos Bons Primos. O seu Chefe era o Mestre da Venda e poderia ou não pertencer à Venda Jovem-Portugal;

Conselho Florestal órgão provisório que se reunia ocasionalmente e foi em determinados períodos um órgão importante e de legitimação de várias reformas internas desta organização;
Venda Jovem-Portugal é uma secção tradicional onde se concentrou durante anos a acção secreta e se manteve o prestígio e bom nome da Carbonária Portuguesa. Era prefeitamente invisivel e os seus membros não se conheciam uns aos outros. Era o órgão supremo da Carbonária Portuguesa, que se reunia quando era preciso tomar decisões importantes como alterações e reformas na estrutura interna, eleger ou exonerar o seu Grão-Mestre e depor a Alta-Venda ou tomar linhas de acção e de rumo importantes no respeitante à acção revolucionária. O seu Presidente honorário era o Grão-Mestre que era o único dos seus membros que comunicava com a Alta-Venda e que assistia a todas as sessões deste órgão;

Tribunal Secreto órgão jurisdicional da organização;

Alta-Venda era composta pelo Grão-Mestre eleito na Venda Jovem-Portugal e mais quatro Bons Primos nomeados e escolhidos por este de entre os membros da Carbonária Portuguesa. Os nomes eram secretos até para a Venda Jovem-Portugal sendo um órgão com membros invisiveis até para estes. Este era o órgão de gestão da Carbonária Portuguesa e o seu pólo dinamizador principal.
Para além da estrutura cívil acima descrita, havia em paralelo uma outra organização dentro dos militares, essa ramificação teria uma estrutura similar em termos da organização acima descrita mas os seus membros eram iniciados de uma maneira especial, provavelmente mais simples.

O símbolismo da Carbonária Portuguesa:
Estrela de Cinco Pontas, que encima o Globo Terrestre, representa a figura máscula dum Bom Primo, de pé, com as pernas afastadas, os braços abertos e a cabeça erguida e os três pontinhos, dispostos em forma triangular com o vértice na parte inferior, '.' .




parte txto retirado do Dicionário de História de Portugal, 4 volumes, SERRÃO, Joel